Dia da Consciência Negra: como falar sobre o tema sem cometer gafes
- Isabella Pinheiro

- há 10 horas
- 2 min de leitura
Ontem, durante meu treino de Karatê, ouvi uma frase que, infelizmente, ainda ecoa com frequência no Brasil:“Se existe o Dia da Consciência Negra, então deveria existir o Dia da Consciência Branca.”
Na hora, meu corpo reagiu antes da minha boca — fiquei nervosa, minhas mãos tremeram. Eu tentei explicar, tentei trazer fatos, mas percebi uma coisa: quando alguém fala a partir do privilégio, a conversa fica difícil, porque o desconforto está todo do outro lado.
E é justamente por isso que o Dia da Consciência Negra importa.
Porque ele revela quem já entendeu o mínimo — e quem ainda está muito distante.
Se você já ouviu frases parecidas ou não sabe como abordar o tema, este guia foi feito para você conversar sem cometer gafes e, principalmente, sem reforçar racismo.
1. O que é o Dia da Consciência Negra?
O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, marca a morte de Zumbi dos Palmares e homenageia a luta do povo negro por liberdade, dignidade e igualdade.
Ele existe porque o Brasil foi um dos últimos países a abolir a escravidão e porque seus efeitos ainda são sentidos de forma profunda.
Por isso, a palavra-chave aqui é consciência — não competição.
2. Por que não existe “Dia da Consciência Branca”?
Essa pergunta nasce quase sempre do privilégio branco — termo que descreve vantagens sociais que pessoas brancas têm sem perceber.
Se você nunca:
teve medo da polícia,
foi seguido em uma loja,
foi chamado de “exótico”,
teve seu cabelo tocado sem permissão,
ouviu que “não tinha perfil” para um cargo…
…então você já entendeu a resposta.
Dia da Consciência Negra não exclui ninguém. Ele reconhece desigualdades históricas e estimula uma reflexão coletiva.
3. “Mas brancos também foram escravizados.”
Essa afirmação aparece como argumento para desvalidar o racismo atual.
Sim, existiram várias formas de escravização ao longo da história — mas nenhuma delas estruturou o Brasil como a escravidão negra estruturou.
Não é sobre quem “teve pior destino”, é sobre quem ainda carrega as consequências disso hoje.
4. Como falar sobre racismo sem cometer gafes?
Aqui vão atitudes simples e essenciais:
✔ Ouça mais do que fala
Pessoas negras são especialistas nas próprias vivências.
✔ Evite comparações e relativizações
“Meu amigo negro nunca sofreu isso.”
Isso não invalida experiências coletivas.
✔ Estude e se informe
Leia autores negros, siga criadores de conteúdo, apoie iniciativas.
✔ Assuma sua posição
Reconhecer privilégios não é culpa — é responsabilidade.
5. O que fazer no Dia da Consciência Negra?
Apoie negócios de pessoas negras;
Compartilhe conteúdos educativos;
Reflita sobre seu papel na sociedade;
Não repita frases prontas e racistas;
Converse, questione, evolua.
O objetivo não é “militar”, é humanizar.
Se você não quer parecer o famoso tiozão do Karatê — aquele que solta frases prontas e acha que opinião é argumento — o caminho é simples:
informação + empatia + escuta.
Falar sobre racismo não é confortável, mas é necessário.
E se é desconfortável para você, imagine para quem vive isso todos os dias.









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