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Brindar é um ato filosófico quando é uma mulher no bar quem segura o copo.

Crônicas de Ressaca

Freud dizia que não somos donos da própria casa psíquica.

Nietzsche gritava que é preciso ter caos dentro de si para parir uma estrela dançante.

E Simone nos ensinou que a mulher não nasce mulher, torna-se.


Mas o que ninguém nos ensinou foi como se manter inteira

quando o mundo exige que a gente seja

forte, doce, sábia, firme...

e ainda assim

agradável.


A verdade é que às vezes não dá.

Às vezes a gente quebra.

Sem estardalhaço.

Só trinca.


E é aí que a gente corre pra onde ainda cabe:

o bar.

a esquina.

a mesa com vista pro copo.

o gole com gosto de libertação tardia.


Mulher bebendo sempre incomodou.

Mulher que chora num bar é “desequilibrada”.

Mulher que ri alto é “exagerada”.

Mulher que bebe sozinha é “triste”.


Mas ninguém pergunta se o copo é refúgio.

Se o gole é um intervalo entre o trauma e o poema.

Se, talvez, pela primeira vez, aquela mulher esteja respirando.


Porque mulher no bar é liberdade em estado líquido.

É alma derramada com gelo.

É corpo presente num espaço onde ela não precisa performar.

Só existir.


E nesse existir, ora cambaleante, ora intenso,

há mais lucidez do que cabe na lógica dos sóbrios.


Beber como uma garota é sentar numa mesa com outras mulheres e dizer:

"eu também pensei em sumir essa semana."

"eu também amei quem não me quis."

"eu também tô cansada de fingir força."


E de repente, a solidão canta em coro.

A dor ganha voz.

A vergonha vira riso entre copos.


Há beleza em desmoronar.

Poesia na ressaca.

E arte nas histórias que a gente conta depois da terceira taça.


Quando brindamos entre mulheres, a taça não estala só pelo barulho:

ela estala porque dentro dela tem dor compartilhada,

riso com eco,

silêncio confortável.


Ali, naquela mesa marcada por copos e frases inacabadas,

a gente reconstrói o que o mundo tentou apagar:

nossa história.


E não é uma história linear, nem sempre bonita.

Às vezes é feita de erros repetidos, recaídas conscientes, paixões mal curadas,

ciladas que a gente entrou de salto alto.


Mas é nossa.

É vivida.

É sentida com intensidade e sem manual.


Ser mulher é caminhar em cima de cacos sorrindo.

É pedir um drink enquanto segura o choro.

É rir no meio do caos, porque se não rir, desaba.

É seguir mesmo cansada, mesmo sem saber pra onde,

mesmo que a única certeza do dia seja:

“eu tô aqui. e isso já é muito.”


Colocar o peito na mesa,

o passado na taça,

e brindar ao fato de que, apesar de tudo,

a gente ainda escolhe sentir.


E sentir,

num mundo que tenta nos anestesiar o tempo inteiro,

é a forma mais sincera de revolução.


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