Oi gente linda!
Cá estou com mais uma entrevista linda de viver. Vamos conhecer um pouco a Roberta, que é cervejeira e proprietária da cervejaria cigana Sapatista.
A Sapatista Cervejas Artesanais fica na cidade de Porto Alegre/RS e graças a tecnologia da comunicação usada para o bem, essa entrevista foi possível, já que no momento não pude ir até Porto Alegre (por enquanto :D).
A Roberta foi super receptiva, e linda de simpática, já agradeci e agradeço novamente por aqui, muito obrigada, Roberta!
Antes de começarmos a entrevista, deem só “uma lida” nos rótulos da Sapatista, porque não dá pra passar batido por isso:
“Nossa INCENDIÁRIA recebe esse nome em homenagem à Louise Michel, como era conhecida. Louise Michel nasceu em 29 de maio de 1830 em Vroncourt, França. Foi professora, poeta, escritora e lutou pela revolução social na França. Pertencente à Comuna de Paris, lutou junto com o povo parisiense contra a tirania dos Prussianos e do ditador Napoleão III. Louise sempre retrucava o conservadorismo da época e as condições impostas as mulheres. QUE MULHER!!”
Incendiária, nossa Red Ipa, uma cerveja lupulada com leve sabor caramelo, com os ingredientes bem balanceados, que dão origem a uma cerveja de alta drinkability.Lembrando que a Incendiária é medalha de ouro na categoria Red Ale na Copa Sul Americana de Cervejas. 6% ABV 60 IBU.
“Nossa PANTERA NEGRA recebe esse nome em homenagem à Assata Shakur. Seu nome significa aquela que luta pelo povo, a agradecida. “Uma escrava fugida do século XX” em suas palavras. Seu crime: ser quem é, lutar pelos direitos das pessoas negras e enfrentar uma sociedade racista, machista e galgada em privilégios brancos. Foi Pantera Negra, participou na década de 60 das lutas do movimento de libertação negra e é um dos ícones de resistência, força e luta contra o racismo que mantém o privilégio branco da sociedade moderna.’
Pantera Negra, uma IMPERIAL STOUT, é uma cerveja escura, intensamente saborosa, com maltes torrados e sabor de frutas secas e escuras. O resultado disso é uma cerveja complexa e harmoniosa. 8,5% ABV 50 IBU
E agora, partiu entrevista:
Déa: Pra gente te conhecer um pouco e começar, como devemos te descrever? Quem é a Roberta e qual sua relação com a cerveja, se rolou algum curso ou foi tudo “só” na prática?
Roberta: Sou mulher, sapatão, bióloga, mestra em botânica, apaixonada por cerveja e gastronomia. Há uns 4 anos, comecei a juntar a sede de beber, a culinária e a biologia. O resultado disso: cerveja! Não fiz curso de Sommelier, mestra cervejeira ou qualquer outro curso. Iniciei estudando, lendo alguns livros e materiais na internet. Minha primeira brassagem foi acompanhada de outras duas mulheres que já faziam cerveja. Depois dessa primeira, segui estudando – e continuo até hoje - e fui aprendendo na prática mesmo, sempre buscando aperfeiçoar algum processo em cada nova brassagem.
Déa: Como surgiu a Sapatista Cervejas Artesanais, desde o primeiro pensamento e como é manter esse trabalho?
Roberta: Não me lembro exatamente quando surgiu a ideia do nome, mas antes da minha primeira brassagem, uma coisa era certa, cada cerveja homenagearia alguma mulher. Acredito que demorei para ter coragem de meter a cara no mercado. Acho que é uma mistura de coisas, tanto acreditar que eu sei sim fazer cerveja, mesmo sem curso, com o lançar isso dentro de um mercado tão masculinizado. Não é fácil levantar a bandeira, de que cerveja sim, é coisa de mulher bem como levantar a bandeira da diversidade. Muitos homens quando leem que é cerveja feita por mulher, de cara já julgam como uma cerveja fraca. O melhor disso é ver a cara deles sentindo o amargor da cerveja quando dou uma prova. Ainda existe muito disso, separar estilos de cerveja conforme gênero, como se as pessoas bebessem com os órgãos sexuais kkkkk!
Déa: Você sofre ou sofreu algum tipo de preconceito, tanto em relação a uma mulher que faz cerveja quanto em relação a sua sexualidade? Ou os dois juntos, rs?
Roberta: Os primeiros preconceitos que senti em relação a mulher e cerveja, foram muito anteriores a fazer cerveja. Pouco mais de 10 anos atrás, eu já gostava bastante de cerveja e costumava sentar sozinha em botecos ou onde fosse, e era bem estranho, porque as pessoas, principalmente homens, ficavam com olhares julgadores do tipo “como assim uma mulher sozinha num bar bebendo?!” Eu sentia todo aquele estranhamento, mas não deixava de fazer o que eu gostava.
Em relação a sexualidade anterior a cerveja, já sofri diversos preconceitos, poderia contar mil coisas aqui, mas acho importante ressaltar que isso influenciou muito nos meus empregos, tanto para conseguir quanto para me manter.
Já nos dias de hoje, tanto algumas pessoas, principalmente homens, não acreditam que seja realmente uma mulher por trás, parece que sempre querem saber quem é o cara por trás de tudo. Muitos também duvidam que sou eu quem faz as entregas, “como assim carrega barril”, sim carrego. Outros já disseram, “é feita por mulher, e aí? Qual a diferença? ” Outros já questionaram de o porquê levantar a bandeira, dizendo que isso seria uma forma de preconceito. Além daquele pré-conceito, buceta cerveja fraca, pinto cerveja forte rsrsrs.
Déa: Quantas mulheres hoje estão envolvidas na Sapatista?
Roberta: A empresa é gerenciada em praticamente tudo por mim: elaboro as receitas, faço a parte administrativa, financeira, distribuição, vendas e muito da parte da publicidade. Mas é claro que conto com algumas mulheres maravilhosas nas áreas de fotografia, design e publicidade. A Livia Tabert faz todas as fotografias profissionais (eu me arrisco em algumas coisas, mas é visivelmente não profissional). A Alexandra Kern faz o design dos rótulos, e convenhamos, são muito lindos. E a Thiane Ávila me dá muito suporte para as publicações, corrige os textos, dá opiniões e me auxilia em todas minhas dúvidas em relação a publicidade.
Déa: Projetos para um futuro não muito distante?
Roberta: Conquistar a América Latina rsrsrsrsrs. Mas acho que é um futuro um pouco distante, mas chegaremos.
Déa: Agora é “tema livre”, rs. Deixa pra gente um recado, uma mensagem, algo que você ache muito importante especialmente direcionado às mulheres.
Roberta: Foram as mulheres que descobriram a cerveja, eram elas quem produziam o “líquido sagrado”, como era conhecido na antiguidade. Então porque não nos reapropriarmos disso? Conheço muitas mulheres que trabalham com cerveja, o que acho que falta é levantarmos a bandeira de que cerveja é coisa de mulher, sim!
Vou deixar um textinho pronto que tenho, mas acho que ele não é direcionado apenas as mulheres, mas para as pessoas em geral.
“Ha cerca de 10000 a.C. a cerveja foi descoberta pelas mulheres. Eram elas que faziam todas as atividades domésticas, incluindo as bebidas e alimentos. Quando a cerveja deixou de ser produzida em casa, é que as mulheres perderam seu papel no mundo cervejeiro. Já as atividades domésticas, ainda hoje são majoritariamente feitas por elas.
Por que é importante apoiar o trabalho de mulheres?
Mesmo hoje, as mulheres que podem não se dedicar exclusivamente as funções domésticas, encontram muitas dificuldades no mercado de trabalho. Tanto as vagas disponíveis quanto os salários pagos são muito desiguais. Em média, as mulheres recebem apenas 70% do salário dos homens ocupando os mesmos cargos. Se somarmos a isso, a dupla jornada que a maioria das mulheres enfrenta, essa diferença é ainda maior.
Mas cerveja é coisa de mulher?
As mulheres além de serem as primeiras a fazer cerveja, em muitas civilizações eram consagradas como Deusas por produzirem o líquido sagrado.
Hoje em dia, nós tentamos cada vez mais buscar nosso espaço e construir uma sociedade igualitária. Unindo essa vontade de um mundo mais justo e nossa sede por cerveja, dizemos que “Cerveja é coisa de mulher, sim! ”.
Valorize o trabalho das mulheres, seja na cerveja ou onde ela quiser. Se você apoia isso, você também apoia uma sociedade mais justa. ”
Trazendo verdades, essa foi a entrevista com a Roberta.
Podemos constatar que realmente correr atrás do que se gosta, estudar (mesmo que seja por conta), levar a sério e mão na massa, desse modo você pode construir sua vida trazendo sentido a ela (ou pelo menos tentar). Fazer o que ama (e o que acredita), se dedicar, apesar de tudo e de todos (mesmo que seja devagarinho). Às vezes a caminhada é cheia de pedras, mas só a gente pode retirá-las e ninguém mais pode fazer isso por nós.
Apesar de estarmos avançando muito rapidamente em algumas áreas como a tecnologia (nem dou conta de acompanhar tudo), algumas outras ainda estão a passos lentos, muito lentos. Às vezes a gente vê coisas que estão acontecendo e pensa: “Sério que isso está acontecendo em 2019? ” Sério. São muitos os pré-conceitos enraizados em nós, mas estamos despertando e muitas de nós em processo de desconstrução.
Tudo isso que a Roberta nos disse é extremamente relevante para pensarmos e pesarmos.
E olha quantos papeis a cerveja pode ter na nossa vida!!
Obrigada Roberta, obrigada por nos emprestar seu olhar.
E sem dúvidas, juntas somos muito mais fortes e cada vez mais livres.
Sapatista Cervejas Artesanais: Instagram @cervejasapatista
Telefone de contato: (51) 9 9271 1316.
Comments